quinta-feira, 27 de março de 2008

NOTICIA

O papa-filas

Uma das características que se destacam na história dos transportes no Brasil, especialmente nas cinco últimas décadas, é a falta de investimento em transporte de massa, a qual degradou a qualidade de vida nas grandes cidades do país a um ponto inimaginável. Redes de metrô, quando existem, possuem apenas uma fração da extensão que deveriam, cobrindo pequena parte da área urbana. E ainda foram criadas com atraso absurdo, na década de 70, quando deveriam ter sido construídas, mais tardar, nos anos 30. Em contraste, basta citar que o metrô de Buenos Aires iniciou em 1913, e possui atualmente seis linhas. E, com certeza, a Argentina não é um país mais rico que o Brasil. O final dos bondes, nos anos 50, gerou uma carência crescente no transporte carioca. Como solução, alguns "gênios" rodoviários da época propuseram o uso daquele que talvez tenha sido o veículo com existência mais curta entre nós: o papa-filas. O nome, pretensioso, se referia à sua carroceria, onde ficavam os passageiros, rebocada por um cavalo mecânico, como se fosse uma carga. De grandes dimensões - cabiam mais de 100 pessoas - eles, segundo alguns, deveriam suprir a demanda.Este tipo de carro não foi inventado por aqui. Foi usado no exterior como solução temporária, em casos de necessidade, nunca como opção regular. Nos EUA, por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, usaram-se alguns veículos deste tipo para transportar operários até fábricas de armamentos. Por aqui, como era de se esperar, o mastodôntico ônibus não deu certo. Grande demais, um trambolho, não conseguia fazer curvas em ruas normais. De uma perspectiva atual, não cumpria nenhuma exigência quanto a conforto e segurança dos passageiros, que viajavam como se fossem gasolina em um caminhão-tanque. Assim, pouco tempo depois, foi abandonado.O papa-filas foi mais uma tentativa frustrada e absurda de se tentar uma solução para a questão do transporte público nas grandes metrópoles usando-se a opção rodoviária, o que se sabe ser impossível e equivale a tentar tapar o sol com uma peneira. Só o investimento em transporte de massa movido a eletricidade poderá melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades, descongestionando as ruas e a atmosfera. Seria um bom modo de distribuir a riqueza gerada pelo país, concentrada nas mãos de poucos, em favor do povo, mantido em catividade vítima de um transporte deficiente e de qualidade inferior.
Fonte: WEBTRANSPO

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