domingo, 29 de junho de 2008

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Fãs de ônibus, busólogos se reúnem em rodoviárias

Arriscam adivinhar o modelo do carro, com os olhos fechados, só ouvindo o barulho do motor

Campinas - Eles são loucos por ônibus. Adoram fotografar os veículos estacionados ou cruzando uma via. Por isso, gostam de freqüentar rodoviárias, garagens de empresas do transporte coletivo e acumulam horas e horas dentro de veículos às vezes lotados de gente. Arriscam adivinhar o modelo do carro, com os olhos fechados, só ouvindo o barulho do motor.

São os busólogos. Pessoas praticante da busologia, um hobbie que está relacionado a tudo que se refere aos carros que transportam diariamente milhões e milhões de pessoas na grande maioria das cidades do planeta. Não há um número oficial, porém uma estimativa mostra que no mundo há cerca de 40 mil busólogos. No Brasil os adeptos podem estar em torno de 3 mil.

"Cada cidade tem ao menos um busólogo e aqui em Campinas somos em mais ou menos quinze", afirma categórico o estudante Luciano Roncolato, 26 anos e há quase 10 anos um autêntico busólogo. Tanto é que até idealizou um site (www.portalinterbuss.net) sobre o assunto.

A paixão por ônibus começou quando criança. Naquele período acompanhou pela janela da sua casa a construção e depois a operação do corredor exclusivo de ônibus da Avenida Amoreiras, no bairro São Bernardo.

"Eu achava bonito o movimento de ônibus e cheguei a pensar que não fosse normal. Foi então, quando ganhei um computador e descobri que existe muitas pessoas com o mesmo gosto", explica.

No ano passado Roncolato organizou o primeiro evento na cidade. Entre admiradores de ônibus e público em geral compareceram cerca de 3 mil visitantes. "Apareceu gente do interior, da capital e de outros Estados. Foi muito bom", lembra. A próxima reunião entre busólogos em Campinas será no dia 12 de julho, das 10 às 17 horas, na Pedreira do Chapadão (Praça Ulisses Guimarães, Jardim Chapadão). Os encontros contribuem para ampliar o circulo de amigos. Pessoas que antes só conversavam pela web acabam se conhecendo pessoalmente, explica ele.

Periodicamente os busólogos programam eventos nas grandes cidades e capitais. Assim conseguem atrair curiosos por novidades além de colecionadores de réplicas de ônibus em miniaturas, de publicações sobre o assunto e álbum de fotos.

Para envolver ainda mais os participantes é costume a montagem de uma exposição com ônibus cedidos pelas empresas de transportes. "Em algumas cidades os empresários de ônibus e Prefeitura ajudam com a estrutura autorizando os motoristas a levarem alguns ônibus para o encontro."

Visitar ônibus em outras cidades
Um busólogo viaja bastante e em ônibus, é claro. Em grupo ou sozinho segue registrando em fotos os coletivos que utiliza. O deslocamento tem como objetivo principal visitar os ônibus que circulam na localidade e em segundo plano de interesse conhecer o destino escolhido. Para um autêntico busólogo é importante ver de perto o carro da empresa transportadora de passageiros.

"Já estive em dezenas de cidades de São Paulo. Gostei demais dos ônibus de Belo Horizonte, Mato Grosso do Sul, Curitiba, Rio de Janeiro", enumera. "Conheço gente que viajou 42 horas sem reclamar".

Feriado prolongado
Os busólogos não costumam ficar em casa em véspera de feriados prolongados. Quem está na cidade fica atento assim os que estão na estrada em busca dos acessos aos terminais rodoviários.

Nestas datas as empresas de transportes se vêem com o aumento da demanda de passageiros. Com isso são obrigadas a colocar ônibus extras para atender ao movimento. "E aparece cada raridade", diz. "Ônibus que costuma ficar guardado e reservado para o fretamento entra em operação."

O estudante Guilherme Rafael, 16 anos, chegou até os busólogos depois que ficou sabendo de um passeio de um grupo de garotos pelas garagens de empresas de transporte em Campinas. A visita monitorada por funcionários e mecânicos pode acontecer duas vezes ao ano.

É organizada pelos busólogos com apoio da Associação das Empresas de Transportes Coletivos Urbanos de Campinas (Transurc). "Achei diferente a idéia do tour e fui atrás. Aí virei um busólogo", falou.

Um pouco de busologia
A engenharia, potência do motor, faróis, assentos dos passageiros, rodas, bagageiros são alguns dos temas que aguçam a curiosidade e provocam longos debates. Códigos, dados, seqüências de letras e números não passam desapercebidos e dão pistas aos mais observadores.

O mais atento será capaz de descrever com precisão o ônibus na plataforma: seu ano de fabricação, nome da empresa, material da carroceria entre outros pontos de interesse.

Ao contrário dos carros de passeio que são comprados inteiros e já funcionando, os ônibus novos que irão compor a frota da empresa são adquiridos em partes, fragmentados.

O empresário do ramo de transportes compra o chassi e depois escolhe a indústria responsável em montar a carroceria. No interior do coletivo, acima da poltrona do motorista, no lado direito constam duas chapas em alumínio contendo essas informações.

Um busólogo é, sobretudo, um observador. Um ônibus tem estampado o nome do fabricante, qual motor e numerações aqui e ali. A inscrição 1113 na lateral sob a porta significa, em linhas gerais que, suporta 11 toneladas e potência de 130 cavalos.

"Se for a palavra Marcopolo que está escrito nos lados, o modelo da carroceria é uma palavra em italiano: Torrino, Viale, Viaggio, Paradiso. Pode reparar".

(NTU)

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