quarta-feira, 2 de abril de 2008

NOTICIA

'Não dá para tomar ônibus'

Coletivos são ruins ou péssimos para 58%

O médico paulistano Danilo Luciancencov, de 33 anos, não pensa duas vezes para deixar o carro na garagem, quando pode ir de metrô para os hospitais onde trabalha. Ele mora próximo da Avenida Paulista, região central com boa infra-estrutura de transporte público. Mas, se a única opção for o ônibus, o médico vai mesmo de automóvel.

“Não dá para pegar ônibus. O tempo de espera no ponto é muito grande e a viagem, demorada. Não tem segurança. Além disso, você vai chacoalhando o caminho todo”, justifica Luciancencov.

O médico não está sozinho. A falta de segurança, conforto e eficiência dos ônibus é um dos motivos para a maioria dos paulistanos não trocar o carro pelo transporte coletivo.

De acordo com pesquisa de opinião feita anualmente pela Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) sobre a qualidade dos meios de locomoção, 58% dos paulistanos consideram o ônibus ruim ou péssimo. No estudo, os coletivos aparecem como o pior meio de locomoção. Por dia, são feitas 9 milhões de viagens nos ônibus paulistanos - cerca de 4,5 milhões de pessoas, metade da população, usa esse tipo de transporte.

“Enquanto o governo oferecer transporte de gado para a sociedade, a classe média não vai aderir ao transporte público”, afirma o consultor em trânsito e transporte Luís Antônio Seraphim.

“Ninguém abandona a privacidade e a segurança do carro para pegar um ônibus que não oferece nenhum tipo de vantagem. É só reparar na expressão de desânimo no rosto das pessoas que olham pela janela do ônibus lotado, para saber que não estão passando bons momentos”, aponta Seraphim

Não faltam modelos eficientes pelo mundo. Na França, a frota parisiense é equipada com GPS (sistema de localização por satélites), acessório indispensável para o controle de circulação da frota.

Em Paris, em cada ponto há um painel eletrônico com a previsão de chegada do próximo veículo, o que permite ao passageiro aproveitar o tempo de espera para ir, por exemplo, ao banco ou tomar um café, sem medo de perder a condução.

Longa espera

“A ausência de um controle desse tipo faz o passageiro ficar desesperado. Aqui, passa um veículo lotado e todos querem entrar, mesmo sabendo que ficarão espremidos como numa lata de sardinha por muitos quilômetros”, diz o consultor em engenharia de tráfego e transporte Horácio Augusto Figueira.

O receio da maioria dos paulistanos é ter de esperar muito tempo pelo próximo ônibus da linha - o que causa muitos empurrões e até mesmo brigas.

Segundo Figueira, se além do GPS o ônibus paulistano tivesse um sistema de comunicação por rádio, a central de controle poderia distribuir melhor a circulação dos veículos, evitando situações que hoje são comuns, como quando dois ônibus da mesma linha passam ao mesmo tempo no ponto de parada.

“A central poderia espaçá-los pelo trajeto, pedindo para que um motorista acelere e o outro diminua a velocidade. Poderia ainda determinar que o ônibus mais cheio só parasse para o desembarque e o mais vazio recolhesse os passageiros.”
Fonte: Jornal da Tarde

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