sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Fura-Fila: custou R$ 861 mi e é subutilizado



O corredor de ônibus Expresso Tiradentes, mais conhecido pelo antigo nome de Fura-Fila, recebe 41 mil passageiros por dia, em oito quilômetros de modernas vias elevadas que ligam o centro à zona sudoeste de São Paulo. Quem o utiliza está contente. Diz que os veículos são rápidos, confortáveis, escapam do tráfego e, de quebra, dão a sensação de “estar voando”. Tudo ótimo, não fosse um detalhe: custou R$ 861 milhões aos cofres do Município, do Estado e do governo federal e é o corredor de ônibus menos utilizado da cidade - outro corredor de mesma extensão, o Jardim Ângela/Santo Amaro, na zona sul, recebe 459 mil passageiros por dia, quase 12 vezes mais.Oito dos dez corredores de ônibus da cidade têm atendimento superior a 100 mil pessoas por dia. A exceção, além do Expresso Tiradentes, é o corredor Paes de Barros, na zona leste, que tem 4 quilômetros e atende 60 mil passageiros diariamente - mesmo com metade da extensão, é mais procurado que o Fura-Fila. Outro corredor de oito quilômetros, o Itapecerica/Santo Amaro, recebe 232 mil passageiros - seis vezes mais.Especialistas dizem que o investimento feito no corredor não se justificou. “É uma piada do ponto de vista da engenharia. Quarenta mil passageiros ao dia não são suficientes para pagar o que foi gasto”, diz o consultor em engenharia de tráfego Horácio Figueira.Segundo ele, enquanto uma parcela é beneficiada com o Expresso Tiradentes, gargalos se formam em outras regiões da capital. “É inconcebível que parcela tão pequena seja beneficiada por um projeto de custo elevadíssimo. Por causa da má distribuição no transporte público, diversos pontos ficam congestionados, formando gargalos no trânsito.”Outro consultor, Sérgio Costa, do Instituto de Engenharia, afirma que o corredor já nasceu errado - desde o início de sua construção, em 1997, na gestão Celso Pitta. “Já era previsível. No tempo do Pitta, técnicos contestaram sua viabilidade e a demanda de carregamento”, afirma Costa. “Ainda assim, depois disso, um anteprojeto foi aprovado para a utilização do esqueleto do Fura-Fila na atual gestão. Os números mostram que devemos pensar melhor antes de aprovar alguns projetos.”Idas e vindas - O Expresso Tiradentes foi construído sobre a estrutura do Fura-Fila, que foi um projeto de campanha de Pitta. Durante sua gestão, apenas 2,8 quilômetros foram construídos.Em 2001, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) retomou o projeto com o nome de ‘Paulistão’. Construiu mais cinco quilômetros, mas também não o concluiu. Até ali, cerca de R$ 600 milhões já haviam sido gastos no projeto.A utilização da estrutura do antigo Fura-Fila também é alvo de críticas de especialistas. “Em vez de gastar toneladas de concreto para fazer uma via elevada, seria mais válido fazer investimento em corredores de ônibus em nível, com faixas exclusivas”, afirma Figueira.Desde 2005, quando o então prefeito José Serra (PSDB) retomou o projeto, foram investidos mais R$ 261 milhões. O atual trecho do Expresso Tiradentes, que liga o Terminal Mercado, no centro, ao Sacomã, na zona sudoeste, foi inaugurado em março do ano passado.
Fonte: O Estado de S. Paulo

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