quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

NOTICIA

A dor de cabeça do Fura-Fila continua

Desde o início de sua construção, há 11 anos, em 1997, até agora - quase um ano depois da inauguração de seu primeiro trecho, de 8,5 quilômetros - o Fura-Fila continua a ser uma dor de cabeça para a Prefeitura. Um verdadeiro elefante branco. E caríssimo, pois nele já foram gastos nada menos que R$ 861 milhões.

Para quê? Ele serve - com rapidez e conforto, é verdade - apenas 41 mil passageiros por dia, em suas modernas vias elevadas, que ligam o centro à zona sudoeste, como mostra reportagem de O Estado de S. Paulo. É muito pouco. O Fura-Fila - que teima em ser chamado por seu nome malandro, apesar de ele já ter mudado para Paulistão e ser agora, oficialmente, Expresso Tiradentes - perde para todos os demais corredores de ônibus da Cidade, muito mais baratos.
Um corredor convencional com a mesma extensão - o Jardim Ângela/Santo Amaro, na Zona Sul - recebe 459 mil passageiros por dia, quase 12 vezes mais. Dos dez corredores, oito recebem mais de 100 mil passageiros por dia. As exceções são o Fura-Fila e o Paes de Barros, na Zona Leste. Este último recebe 60 mil passageiros, mesmo com metade da extensão do Fura-Fila.

Não admira, diante desse pífio resultado, que ele seja classificado impiedosamente pelo consultor em engenharia de tráfego Horácio Figueira como “uma piada do ponto de vista da engenharia. É inconcebível que parcela tão pequena (da população) seja beneficiada por um projeto de custo elevadíssimo”. O problema, como lembra outro consultor - Sérgio Costa, do Instituto de Engenharia -, é que o Fura-Fila nasceu errado, pois já no governo Celso Pitta “técnicos contestaram sua viabilidade e a demanda de carregamento”.

Não se podia mesmo esperar muito de um projeto que surgiu de uma idéia mirabolante, não de entendidos no assunto, mas do publicitário Duda Mendonça, idealizador da campanha eleitoral que levou Pitta à Prefeitura. Pitta construiu apenas 2,8 quilômetros, dos 70 km programados, mas gastou tanto nisso - R$ 270 milhões - que criou um problema para sua sucessora. Para não perder o que havia sido investido no projeto, Marta Suplicy decidiu continuar a obra e construiu mais cinco quilômetros, ao custo de R$ 330 milhões. José Serra fez o mesmo, mudando o projeto, agora chamado de Expresso Tiradentes, com extensão de 32 quilômetros, ligando o centro à Cidade Tiradentes.

O então prefeito Serra disse na ocasião que, se dependesse dele, o Fura-Fila não teria sido iniciado e definiu bem a situação a que se chegou: “Fizemos um novo projeto porque não adianta chorar o leite derramado.” Mas agora, diante do desalentador resultado da primeira fase da obra, é preciso reavaliá-la mais uma vez. Estudos devem ser feitos para determinar se a demanda esperada para quando a obra estiver concluída justifica investir nela mais os R$ 600 milhões previstos.Qualquer que seja o desfecho desse caso, ele já entrou para a história político-administrativa da Cidade como um exemplo de como a irresponsabilidade e a demagogia eleitoral podem custar caro aos contribuintes.

Fonte: ANTP / Jornal da Tarde

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