quarta-feira, 12 de março de 2008

NOTICIA

Van clandestina lucra com caos na Zona ul e roda sem segurança

Fiscalização da SPTrans só observa se lotações têm liminares para circular. Veículos não repassam dinheiro à Prefeitura

O caos no transporte na região do Jardim São Luiz, na periferia da Zona Sul da capital, abre espaço para a circulação de lotações que não cumprem as regras do sistema municipal de transportes. Ontem de manhã, o DIÁRIO flagrou vans levando passageiros da Estrada do M'Boi Mirim para o Terminal Santo Amaro e para Pinheiros em condiçães de risco à segurança. A situação se repetiu à tarde.
A opção dos passageiros por esse transporte ocorre por causa da lentidão dos ônibus e microônibus regulares que, também estão sempre superlotados. "Prefiro pegar a lotação, que é mais rápida. Demoraria uma hora para voltar do trabalho de ônibus. Com a van, levo cerca de 20 minutos", disse o segurança Cícero Cleiton, de 28 anos, que utiliza a van entre o Largo 13 de Maio e a M'Boi Mirim.
No trecho, muitas vans que circulam pelo corredor de ônihus, à esquerda, cruzam a via perigosamente, para o embarque e desembarque de passageiros nas calçadas à direita.
Na sexta-feira, uma manifestação contra os problemas no transporte da região bloqueou o trânsito por cinco horas na M' Boi Mirim. Houve confronto com a polícia e apedrejamentos de ônibus.
A São Paulo Transportes (SPTrans) admite que as vans não passam por vistoria. As lotações rodam graças a liminares judiciais. Nas laterais, levam os dizeres: "Cidadania e Justiça — autorização judicial, vedada a apreensão". Ontem, esses veículos circularam pela M'Boi Mirim entre 6h30 e 7h30, e à tarde, das 18h às 20h. Uma das empresas que roda na região é a Abracovi. Por telefone, o DIÁRIO procurou o departamento jurídico da empresa para comentar a questão da segurança e se suas vans possuem liminares. Mas as ligações não foram retornadas.
Sem bilhete único
A SPTrans informou que as vans com liminares não tem validador de bilhete único — ou seja, escapam de dividir seus lucros com a Prefeitura, além de não oferecerem o benefício de quatro viagens no período de duas horas pelo preço de uma passagem.
De mãos atadas juridicamente, os fiscais da SPTrans podem apenas checar a documentação dessas vans e de seus motoristas quando os encontram. A Prefeitura tem uma lista de motoristas autorizados a circular por determinação da Justiça, cadastro que é fornecido pelo departamento jurídico da Prefeitura. Caso a liminar seja irregular, porém, o veículo é apreendido, diz a SPTrans.
Autorizações duplicadas
Segundo alguns perueiros autorizados pela Justiça para circular, há casos de liminares "duplicadas". O esquema funcionaria da seguinte maneira: um perueiro consegue uma liminar para rodar e o despacho é reproduzido e utilizado por outro(s), burlando assim a fiscalização da Prefeitura.
Procurada pelo DIÁRIO, a Secretaria de Negócios Jurídicos, responsável pela fiscalização das liminares, diz não ter conhecimento do problema.

Passageiros andam 4 quilômetros

Cansados de esperar parados no congestionamento, milhares de passageiros descem dos ônibus e das lotações e seguem a viagem a pé na Estrada do M'Boi Mirim, pela manhã. Algumas pessoas chegam a andar até quatro quilômetros. A romaria acontece entre 6h30 e 8h nos dias de semana.
"Está tudo parado. Não anda", reclamava o auxiliar de serviços gerais Paulo Pedro da Silva, de 25 anos. Ele saiu de casa às 5h40 para chegar ao trabalho, próximo do Terminal Santo Amaro, no Largo 13, às 7h. Mas às 6h55, ele ainda esperava um ônibus no ponto.
Paulo desistiu do ônibus no cruzamento da Estrada M'Boi Mirim com a Rua Belchior Félix e foi andando até o ponto fica em frente à subprefeitura, já na Avenida Guarapiranga (continuição da M'Boi Mirim). Lá, o trânsito já flui por causa das vias de acesso à região central. Foram 40 minutos de caminhada. No ponto da subprefeitura, as vans passavam abarrotadas de passageiros, que chegavam a se pendurar nas portas abertas de entrada e saída, arriscando a vida.
O técnico em manutenção de celulares Thiago de Souza, de 19 anos, estava no mesmo ponto. Ele já tinha caminhado meia hora, do Parque Ipiranga até lá, e às 6h50 esperava por uma van que não estivesse tão lotada. Thiago tinha que chegar à Avenida Domingo de Moraes, na Vila Mariana, às 8h. "Até o Terminal Santo Amaro são duas horas", afirmou. Depois, ele ainda pegaria mais um ônibus e o metrô até a Estação Ana Rosa.
Fiscalização não alivia lentidão
A CET intensificou a fiscalização, ontem pela manhã, para evitar que carros e motos invadissem a faixa exclusiva de ônibus na Estrada do M'Boi Mirim. Ao longo do corredor, foram colocados cones. Quem insistiu em rodar na área dos ônibus levou multa.
Porém, o cerco aos invasores trouxe pouco resultado prático para os passageiros. O percurso entre os terminais Capelinha e Santo Amaro estava demorando duas horas, de acordo com um cobrador. Sem engarrafamento, o trajeto pode ser feito na metade do tempo.
Nos pontos, fiscais da SPTrans seguravam os ônibus para os passageiros entrarem. "Os fiscais seguram os ônibus e os que vêm atrás não podem passar", afirmou a doméstica Dalva da Silva, de 39 anos. "Precisa de mais ônibus e de menos fiscal segurando os carros", disse a auxiliar de limpeza Diana Rosa, de 29 anos.
O DIÁRIO pediu para entrevistar o secretário de Transportes, Alexandre de Moraes, para falar sobre a continuidade dos problemas na região, mas a pasta informou que ele não falaria. Além do aperto na fiscalização, na sexta-feira, a Prefeitura transferiu quatro linhas da viação VIP para a Campo Belo. A alegação é que a segunda possui ônibus maiores e mais novos. Também há planos para fazer pequenas obras na região para melhorar a fluidez. Ontem, 50 agentes da CET e da SPTrans trabalharam no corredor.
Fonte: ANTP / AGORA SP

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