segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

RJ

Motoristas de ônibus do Rio trabalham no limite, aponta jornal

Na quinta-feira, 59 pessoas ficaram feridas em dois acidentes com ônibus – num deles, o motorista dormiu ao volante; no outro, infartou. Por lei, os condutores profissionais podem trabalhar no máximo sete horas por dia. Entretanto, segundo alguns deles, a realidade é diferente.

– Tenho de fazer três viagens por dia, mas muitas vezes não consigo terminá-las no período de sete horas e sou obrigado a trabalhar além do permitido. Tudo isso em um ambiente muito quente e barulhento. É estresse direto – afirma o motorista José Roberto Cardoso, de 48 anos, que trabalha na linha 415, Usina- Leblon.

Situação semelhante vive Carlos Eduardo, que trabalha na linha 220, no trajeto Usina-Praça Mauá.

– Não temos tempo nem de ir ao banheiro, somos vigiados por câmeras e fiscais, que parecem não entender nosso ambiente de trabalho – reclama.

No caso da cobradora Cirlene Alexandrina Soares, os reflexos da rotina estressante de sua profissão, segundo ela, foram sentidos na saúde.

– Quando comecei a trabalhar aqui, minha pressão sanguínea era de 11 por 7. Hoje ela beira o 17 por 10, tenho até de tomar remédio, e outro dia cheguei a desmaiar – relata.

O motorista Alex de Mello, diz que são desrespeitados direitos básicos do trabalhador comum.

– Não há horário para almoço. Temos que aturar um monte de passageiro estressado, descontando na gente. Vira e mexe, uma galera invade o carro, e o dono da empresa nos cobra pela passagem.

Outro cobrador, que preferiu não se identificar, reclama que nem a doença é respeitada.

– Não adianta chegar com atestado médico, se não trabalharmos temos aquele dia descontado.

O diretor social do Sindicato dos Rodoviários do Município do Rio de Janeiro, Wanderley Furtado, afirma que as empresas de ônibus têm parcela de culpa por acidentes como os de quinta-feira:

– Obrigam o motorista a dobrar. Se não segue a orientação da empresa, é retaliado. Outra sujeira que fazem é mandar motoristas cobrarem as passagens nos ônibus menores. Se não permitem falar no celular ao volante, não poderiam permitir contar o troco e pegar o dinheiro.

De acordo com Furtado, a “antes muito procurada vaga de motorista em empresas de ônibus”, hoje é “esnobada”.

– Tem assalto toda hora, queimam ônibus. Crescem, cada vez mais os casos de dores na coluna, hemorróidas e alcoolismo. Muitos profissionais estão se tornando pedreiros, mecânicos.

De acordo com a Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), a retirada de centenas de vans ilegais das ruas fez com que fossem colocados 1.3 mil novos ônibus em circulação no Rio, gerando uma demanda de cinco novos funcionários para cada um dos coletivos – dois motoristas, dois cobradores e um funcionário de manutenção.

Para suprir as novas vagas as empresas fizeram um acordo com o governo estadual, criou mais de 6,5 mil postos de trabalho que serão preenchidos em breve.

Empresas admitem trabalho além das sete horas permitidas
O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio de Janeiro (Rio Ônibus), Octacílio Monteiro, admitiu que alguns motoristas trabalham além do tempo permitido.

– Por conta do trânsito, às vezes eles trabalham mais de sete horas. Há os engarrafamentos e complicações. Todos nós estamos sujeitos a essas variáveis.

Entretanto, segundo Octacílio, são pagas horas extras, a todos eles.

– Trabalham sete horas por dia, seis dias por semana. Faz hora extra quem quer. A lei autoriza isso – afirmou.

Sobre os acidentes em que um motorista dormiu e outro sofreu um infarto enquanto dirigiam, a Fetranspor, pronunciou-se:

“São fatalidades, não é todo dia que um motorista de ônibus infarta ou dorme ao volante. A maior causa dos acidentes é o excesso de velocidade e outras práticas associadas à condução do veículo. Estamos investindo pesadamente para reverter este quadro. Para isso, desenvolvemos em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Programa Motorista Cidadão, que trabalha a questão comportamental, e também somos parceiros do Detran nas autoescolas gratuitas, iniciativa pioneira voltada para o desenvolvimento e aprimoramento técnico do rodoviário”.

O secretário municipal de Transportes, Alexandre Sansão, atribui boa parte do problema às más condições de trabalho dos motoristas. Ele anunciou que, ainda este ano, o prefeito Eduardo Paes vai baixar decreto determinando a troca de toda a frota municipal de ônibus (8.700 coletivos) por veículos modernos. A SMTR espera uma média de mil ônibus renovados a cada ano, até 2016.

– O motor não poderá ficar na frente do ônibus. Imagine um motorista dirigindo o dia inteiro com aquele barulho do seu lado, com o motor esquentando suas pernas. Ele se estressa, e aí acontecem as coisas que não devem acontecer. Vamos implantar um novo padrão tecnológico. O câmbio, por exemplo, tem que ser automático e chassis e suspensão tem que ser trocados – diz .
Com informações do Jornal do Brasil

Nenhum comentário: