terça-feira, 29 de dezembro de 2009

RODOVIARIA DO TIETE, SP

Difícil é se encontrar no Tietê
A falta de sinalização da maior rodoviária do País dificulta a vida dos usuários do terminal
Naiana Oscar

O único banheiro gratuito está escondido. Na saída do desembarque, as placas levam às escadas convencionais, mas ignoram os elevadores. O carrinho para as bagagens está proibido de mudar de andar. E quem não conhece o lugar tem de se virar perguntando, porque o maior terminal rodoviário do País, por onde passam 90 mil pessoas por dia, embora seja “modelo”, deixa a desejar quando o assunto é informação.

Até o dia 29, cerca de 950 mil pessoas devem passar pela rodoviária. Para evitar desencontros, o JT preparou um guia para quem tiver de “se achar” ou achar alguém no prédio de 120 mil m2 - quase dois estádios do Pacaembu. A planta do Tietê não está a disposição dos usuários no terminal, mas você poderá vê-la no Portal www.estadao.com.br.

Primeiro, uma informação de utilidade pública. A localização do único sanitário gratuito: fica ao lado de uma LAN house, no primeiro piso. As comerciantes da loja vizinha é que indicam o caminho aos perdidos. “Eu mais digo onde é o banheiro do que vendo cosmético”, disse uma lojista, que não quis se identificar. A placa que fica em frente a esse sanitário aponta para o lado oposto e leva os passageiros a um dos banheiros com catraca, onde é preciso pagar R$ 1,25. As condições de higiene e o cheiro, pouco agradável, são os mesmos. A explicação da Socicam, que administra a rodoviária, é que uma nova placa poluiria visualmente o ambiente.

Chegar ao desembarque pelo elevador é outra peregrinação. Ele fica na área administrativa e um painel restringe a entrada de quem não seja funcionário. A falta de sinalização torna mais difícil a chegada dos passageiros. Ao descerem dos ônibus, eles se deparam com uma escada rolante e duas convencionais. Não há placas que apontem o elevador, 50 metros adiante, depois do ponto de táxi. Semana passada, quando foi buscar a mulher, o caminhoneiro Vanderlei Aparecido da Silva, 43 anos, não se animou a subir as escadas. Sabendo que teria de andar por meia hora até o carro, foi atrás de um elevador. Ele achou o local, mas não conseguiu entrar porque um funcionário disse que seu uso era exclusivo para pessoas com deficiência. “Parece que aqui a gente só tem deveres. Se quer conforto, tem de pagar.”

E tem mesmo. Os 120 carrinhos de bagagem que ficam na saída do desembarque não podem ser levados para o andar de cima, por onde os passageiros precisam passar para chegar ao metrô ou a um dos estacionamentos. Isso é um privilégio dos carregadores, que cobram de R$ 3 a R$ 5 para fazer o “frete”. Eles são autônomos e não se submetem à administradora do terminal. Entre os 144, alguns estão ali desde que a rodoviária foi inaugurada, em 1982.

A promotora de Justiça, Jane Callegares, de 58 anos, não dispensa o serviço. Ela passa pelo Tietê pelo menos duas vezes por semana, para ir a Campinas, e prefere pagar. “Acho eles maravilhosos e nunca tive problema.”

Nem todo mundo está disposto a remunerar um carregador. Recém chegadas da Bahia, as aposentadas Maria Pereira, 83 anos, e a filha Mazinha Santana, de 58, tiveram de atrasar a chegada na casa dos parentes. Os sobrinhos levaram as 12 malas no braço até o carro. “A gente está guardando as malas até eles carregarem tudo.”

A Socicam alega que, se os carrinhos pudessem circular pelo primeiro andar, atrapalhariam o acesso à estação do metrô - que já é complicada. A fila nas sete bilheterias costuma assustar. Para reduzir a espera, o Metrô orienta os passageiros a comprar seus tíquetes antes da viagem, de preferência em outra estação.

TRANSTORNOS

Na chegada pelo metrô, o número reduzido de guichês faz com que se formem filas enormes para a compra do bilhete

Há 9 elevadores, dos quais 4 não estão funcionando. Um deles fica escondido no setor da administração e é o único que dá acesso à área de desembarque

Não há placas indicando onde fica o único banheiro gratuito da rodoviária, ao lado de uma LAN house. Nem a escada rolante, que leva até o desembarque e o embarque para longas distâncias

No desembarque, as pessoas colocam as malas nos carrinhos (como os do aeroporto), mas não podem subir para o andar de cima. O jeito é subir as escadas com a bagagem. Existe um elevador no local, mas não há sinalização para se chegar até ele

A falta de informação também leva os usuários da rodoviária a caírem no golpe dos falsos taxistas. Eles costumam oferecer viagens combinadas na saída da Av. Cruzeiro do Sul, perto da base da Polícia Militar, com preços abusivos. Nos últimos três meses, três ocorrências com táxis clandestinos foram registrados no 9º DP (Jornal da tarde)

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